Para alcançar justiça econômica e social com verdadeira equidade de gênero e raça, é necessária uma transformação estrutural do sistema econômico, tributário e fiscal, de modo que este passe a atender às necessidades de produção da vida humana em detrimento da produção de lucro para o capital. O momento histórico em que vivemos, lastreado pelo caos climático, exige, com urgência, que nossos padrões de consumo e produção e o uso de todos os recursos naturais – do ar à terra, dos rios, lagos e aquíferos aos oceanos e mares– seja não só sustentável, mas respeitoso para com a natureza e os povos das águas e florestas. Além disso, é preciso reestruturar as instituições públicas através de uma lógica antirracista e antissexista, capaz de combater a concentração de renda e as históricas desigualdades sociais.
Marielle acreditava que a produção de lucro não deve estar acima da vida das pessoas, e que o combate à exploração e à expropriação de trabalhadores e trabalhadoras é dever do Estado. Para Marielle, este debate paira na noção de que é possível um mundo novo, onde não haja separação entre os seres humanos e a natureza. Um mundo livre da alienação, livre de desigualdades, e no qual não será mais necessária a luta para a erradicação da pobreza e da fome, pois estas deixarão de ser produzidas por um sistema predatório e colonial. Um mundo em que o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia são sensíveis ao clima, respeitam a biodiversidade e a diversidade de culturas. Um mundo em que a humanidade vive em harmonia com a natureza e em que animais selvagens e outras espécies vivas estão, de fato, protegidos.